terça-feira, 20 de maio de 2008

Dissimulada.

-Tem certeza, Kath, que é isso que você deseja?
-Sim, Tom. Se você já superou todos seus sentimentos, acredito que não tenha mais problemas. Atue com ela como você atua comigo, e faça dessa peça uma linda história de amor, que os espectadores aplaudam de pé.
-Mas Kath, você não acha que ela deseja espaço? Pois afinal, quem a deixou fui eu, e não quero machucá-la mais. Temos uma história, e não devo ser sacana ao ponto de fingir que nada aconteceu para simplesmente tratá-la de maneira comum.
-Depois de mim, Violet é a atriz mais qualificada para o papel, e quero uma ótima peça, afinal tudo está sob minha direção. Não posso atuar, ela é a única restante, e não pediria se não fosse necessário. Não tenho problema de ver você com ela, e não entendo como a deixastes por mim, mas agradeço e muito seu amor, pois sabes que te amo profundamente. Se você não sente mais nada por ela, tenho absoluta certeza que não se importará de me ajudar, ou será que estou enganada?
-Sabes muito bem que estais certa.. Não sinto mais nada por ela, senão não estaria com você, meu amor.
-Então.. Imagine esse teatro lotado, o teatro mais cobiçado de todo país, com todos aplaudindo de pé, apreciando a qualidade de minha obra. Não posso deixar que um simples passado amoroso interrompa meu sonho de vida. Mas se é de conforto para sua alma, já falei com Violet, e ela mesma se propôs a atuar antes que eu desse a idéia. Somente tome cuidado, ela quer distância, não quer conversar com você sobre nada além do trabalho, e precisa se focar para dar seu máximo.
-Se é para seu bem, e seu desejo realizado, vou cumprir suas ordens. Mesmo realizando uma cena de amor, com falsas palavras a esta mulher, nada vai mudar, te amo.
-Fico feliz, e te amo, sempre. Não fale com ela.

...
-Violet, por favor.. Espere!
-O que desejas caro Tom? Já não bastou esquecer tudo o que me dissestes, as promessas de uma vida com filhos, casa, e amor perpétuo? Ainda queres me magoar a todo custo?
-Por favor, não volte às antigas discussões. Vim aqui somente para lhe fazer uma simples pergunta: Por que sugeristes atuar comigo na peça de minha amada, exatamente na parceira amorosa de meu personagem? Ainda queres me incomodar com esse seu orgulho imenso?
-Orgulho imenso? Que orgulho? Já perdi ele meses atrás, quando resolvestes ficar com ela, e me taquei a seus pés lhe implorando para reconsiderar o que tínhamos passado. Se queres mesmo saber o único motivo pelo qual não a agredi foi porque era Senhorita Katherine, aquela que sempre venerei e me espelhei, e não uma mulher qualquer. Respeito é o que tenho por ela, mas por você Tom, suas palavras frias, completamente opostas de quando estávamos juntos, me matam diariamente.
-Já não disse? Não quero voltar a antigas discussões. Siga sua vida que sigo com a minha. Responda minha primeira pergunta.
-Você realmente acha que em sã consciência pediria pra voltar a falar com você, ou até mesmo lhe beijar em uma cena? Nunca pensei que você chegaria a pensa isto de mim, e mais uma vez me decepcionastes.
-O quê? Mentirosa! Que blasfêmia! Como ousa ser tão dissimulada? Ainda bem que fiz uma boa escolha, ainda bem que deixei de ser solteiro por ela, ainda bem que não acreditei em suas falsas palavras de amor.

-Não, você está enganado Tom. Violet tem toda a razão.
-Meu amor? Kath, o que estais a fazer aqui? Estavas escutando atrás das paredes?
-Sim, estava. Fico feliz por ser a causadora dessa conversa. Como os homens são facilmente manipulados, não? Bastam simples palavras e eles já acreditam.
-O quê? Kath, o que houve com você?
-‘Meu amor’, você sempre me chamou e nunca te retribuí, percebestes? Nunca te amei, caro Tom, nunca. Nem mesmo uma vontade de estar contigo senti, e sim, um desejo de jogar com você.
-Tom, o que está acontecendo? Vocês dois estão a brincar comigo? Parem!
-Kath, por favor, pare com isso. Estava tendo mais uma conversa com Violet, e você sabe que está tudo terminado mesmo, nem mesmo olhares iremos trocar, se você quiser. Não acredito no que essa mulher possa vir a me dizer. Antes eu acreditava em suas palavras, mas agora vi como são venenosas, querendo se desculpar sempre pela covardia e falta de honra.
-Tom.. Você realmente não entendeu, EU sou a dissimulada aqui, a Violet venenosa foi uma construção que fiz em sua mente.
-Pare!
-Senhorita Katherine, não precisa se importar no que este crápula pensa de mim, não tome a culpa para si mesma quando ela não lhe cabe.
-Calem a boca os dois! São os ingênuos mesmo. Nunca perceberam como são burros? Violet se deixou levar pela imagem que tem de mim, como uma mulher perfeita, e Tom por minhas palavras.
-Como?
-Cheguei nessa cidade por volta de seis meses atrás, e sempre ouvia falar de um solteirão famoso. Segui esses boatos, e acabei encontrando você, Tom. Nunca poderia esperar algo melhor, você estava com alguém, uma mulher por todos conhecida como ‘a maravilhosa’. Não te faz o sangue ferver quando você tem a possibilidade de acabar com essa imagem, acabar com um casal perfeitamente apaixonado, que ninguém ousaria se meter? Essa é a minha obra, Tom! Essa é a minha obra prima! Fiz-me de educada, inteligente, prendada, e somando minha beleza, consegui ser a jovem mais desejada daqui, sem nem fazer muitos esforços, ser melhor que ‘a maravilhosa’. Estavas em minha mão desde a primeira vez que esbarrei em você, e no controle de tudo. Como vocês se sentem sabendo que são dois tolos? Como você está Violet, sabendo agora que o homem que você ama te tratou daquele jeito pelo simples fato de estar com outra? Você pode perdoá-lo, com seu orgulho ferido múltiplas vezes? E você Tom? Vai deixar seu orgulho de lado e voltar a procurá-la?
-Monstro! Sua meretriz! Como ousas entrar em minha vida e destruí-la dessa forma? Fizestes-me acreditar que eras o amor de minha vida, enquanto ele já estava no meu lado a anos!
-Senhorita Katherine, pare de brincar e fale a verdade.
-Essa é a verdade, tola Violet. Não sou alguém para você se espelhar, e sim alguém para você odiar. Deu de ingenuidade e coração honesto, o amor de sua vida o deixou por um outro coração maldoso e indiferente. A questão é se podes perdoá-lo, mesmo sabendo que já dormi com ele enquanto ele ainda estava com você? E esse é o grande final de minha obra prima. Arte.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Devo I

Era mais do que podia predizer, mais do que podia esperar. Deixei o Condado de Austen com um simples pensamento em minha cabeça: Deveria esquecer. Mudar a página nunca é fácil, mas com tal situação, não tem mais jeito a não ser fugir para bem longe, onde meu nome não possa ser escutado, comentado ou julgado. Por cidades sem escrúpulos passei, ali poderia não ser julgada (atos mais incestuosos já tinham sido cometidos), mas decidi continuar procurando um local interessante, para recomeçar com algum prestígio, um luxo.

Talvez não devesse ser tão exigente, pelo tamanho dos erros que cometi, mas agradeço por ter sido, pois com essa grande procura encontrei o local que estava procurando. Isolei minhas memórias, e com o objetivo de fazer os outros não saberem, me “esqueci”. Lutei pelo meu lugar, fiz um círculo de relacionamentos, demonstrei meus dotes e todos foram bem aceitos. O que há comigo? Já deveria ter aprendido a não me expor desse jeito, não chamar a atenção com um círculo de amizades farto, mesmo tendo novamente mudado meu nome.

Cara de inocente sempre tive, e provavelmente isso que acaba me levando ao crime e à luxúria de cometê-lo. Lá estava eu, de novo, agindo do jeito que não deveria, me deixando levar pela conversa de outros, mesmo não sendo inocente como meu rosto sugere a todos, só pelo fato de gostar de atuar, fingir. O desejo de jogar com outros me instiga, e muito, mas do que ele realmente vale se me arrependo mais tarde?

Devo parar, urgentemente, e proteger esse lugar especial que encontrei. Será tarde demais?

domingo, 18 de maio de 2008

Revólver

A rua era St. Petersburg, e Sr. Pratt caminhava em direção a seu fim. Não, não ao fim de sua vida, mas o fim da rua, onde se encontrava uma construção do tipo 'secreta e antiga', daquelas que não dizemos o nome. Sr. Pratt parecia preocupado e um pouco irritado, mas resolveu usar seu orgulho ferido para melhorar sua situação e ser melhor que quem o feriu, e isso tudo porque uma vez ouviu a tal frase "Use this will of pride to improve".

Seus passos eram largos e sem 'temor' do barro, que impregnava toda a rua. Talvez esses passos fossem temerosos pelo simples fato de que a mente de Sr. Pratt viajava para o outro lado da rua, naquela construção 'secreta e antiga', que não dizemos o nome, a o que ele iria dizer e a conseqüência de suas palavras.

Que orgulho homem! Fostes logo arranjar problema com aquela instituição. De qualquer forma, te admiro. Grande coragem, que muitos chamam de grande estupidez. Enfim, é bom se preparar, pois estais logo a frente da porta, e, se eu fosse você, tomaria cuidado com seus próximos atos.

Devagar.. Isso. Abristes a porta, agora vire à direita e caminhe até àquela porta verde, essa de maçanetas vermelhas. Achou? Agora é com você, e te desejo o melhor, pois afinal, o senhor se arrepende do que aconteceu, e todos nós erramos.

É.. Sociedade secreta e antiga, assunto secreto e novo. Novo pois a tal sociedade não está acostumada com esse tipo de assunto. Não posso contar o que realmente aconteceu, mas logo que o homem de bigodes muito pretos e penteados fechou a boca, Sr. Pratt foi retirado da sala a socos. A vida não é fácil, certo?

Orgulho ferido de novo, e lá estava Sr. Pratt voltando para casa, e para piorar, com suas botas sujas. Logo que a porta se abrisse deveria encontrar-se ali sua família, suas filhas bordando, seu filho homem tocando alguma sinfonia no piano, sua mulher, situada na namoradeira, tentando ler algum livro apesar do barulho presente na sala. Mesmo com a imagem perfeita na cabeça de Sr. Pratt, nada poderia realizar esse desejo de tudo voltar como sempre foi. Tudo tinha ido embora.

Se já não bastasse a bota suja, os socos e hematomas e o orgulho ferido, também não havia companhia alguma. Amigos? Que amigos? Estava 'só'. Não te avisei Sr. Pratt? Fez a bobeira de não dar valor, como conseqüência perdeu o orgulho e agora até suas botas estão sujas. Agora o que restava era seu 'amigo' uísque, amigo que não fala, não abraça, mas facilita pra relaxar. Sr Pratt, que falta de respeito! Não abuse tanto de seu 'amigo', por favor. Horas e horas falando de sua situação, só de mágoas do passado, e ele ali sem nem ter opção de ouvir ou não.

Bom, 'amigo' uísque apresentou Sr. Pratt a outro amigo, um muito violento, para se dizer, e uma má influência, com certeza. Amigo uísque deveria não agüentar mais as mágoas de Sr. Pratt e quis se livrar logo. Esse amigo novo aí, só bastou dar uma solução mais simples, e logo foi Sr. Pratt atrás, sem nem pensar direito se era muito drástico ou não.

Ai ai Sr. Pratt.. Mal sabia que sua família estava voltando para casa, por uma ironia do destino. Uma pena mesmo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Complexo de Deus?

Não me culpe por minhas escolhas. Sou jovem, tenho sonhos e ambições que nunca consegui cumprir. Sempre me esforcei para ser de caráter, inteligente e carismático. No entanto, algo me chamou.

Sou capitão de um navio, um cruzeiro, para se mais específico. O capitão sempre tem a obrigação de interagir com a tripulação, e foi nessa hora que algo me chamou. Ela andava pelos corredores mostrando sua exuberância e sensualidade. Não resisti, paguei-a. Se foi caro? Foi, e muito, mas valia cada vintém. Depois da primeira vez continuei me sentindo magnetizado e continuei visitando-a todas tarde, até que descobri da existência de um outro: seu "marido". Me controlei, parei de visitá-la.

Outro dia encontrei outra mulher muito bonita, mas que só contava vantagem de seus feitos. Pessoalmente, odiei-a, mas tive de aguentá-la, assim como o político que a paquerava exibindo seu dinheiro de propina.

Outras figuras sempre me chamavam atenção. O tal renomado cientista, que parecia (completamente) fora da casinha, o professor que dava lições sobre oceanos, a velhinha que cuidava de sua netinha enchendo-a de doces e brinquedos, o policial que em nenhum momento deixava de desconfiar de terrorismo, e o deficiente físico sempre cuidado por um ótimo médico.

Dessa vez o cruzeiro parecia estranho. Além da prostituta com quem me relacionei, todas essas pessoas pareciam especiais. Foi aí que percebi o motivo, o sinal tocou e o navio estava afundando. Eu, como capitão, tinha o direito de levar dez pessoas em um bote especial. Levei cinco.

"Por que?" qualquer um perguntaria. Simplesmente pelo fato de que a velhinha e a criança perderam o elo que as ligava, o policial norte-americano iria me irritar com suas nóias, o deficiente físico só atrapalhar, e o professor hipocondríaco não seria diferente. Levei a prostituta, a psicóloga, o político, o médico e o cientista, e os chamo por suas profissões pois não me importo em saber seus nomes. O porquê, novamente? A psicóloga só viria com o dinheiro do político, e preciso dela para sua mulher vir junto. Sim, ela é o "marido" da prostituta, e tenho sonhos com as duas. O cientista e o médico são para nossa saúde e salvação, caso as coisas compliquem. Achou que eu era Deus? Não, sou bem humano.